Confesso que à hora que escrevo, desconheço o resultado do inquérito disciplinar ao jogador Ousmane N'Doye. Por isso, estou também mais à vontade para emitir a minha opinião e formular alguns juízos de valor.
Vi jogar Ousmane N'Doye pela primeira vez no Estádio do Dragão, num F.C.P.-Estoril, no qual saltou à vista de todos a qualidade técnica e a força deste jogador. Mandava no meio-campo canarinho, tacticamente cumpridor, com uma capacidade de remate assinalável, bem patente no golo que marcou. Continuei a acompanhá-lo, mas o alarme soou quando vi a forma como quis sair do Estoril, em choque com dirigentes e equipa técnica, para ingressar no Penafiel. Voltou a destacar-se no conjunto penafidelense, ao ponto de num jogo contra a nossa Briosa ficar com a sensação de que só ele era suficiente para fazer frente ao nosso meio-campo, constituído por jogadores como Dionattan, Rafael Gaucho e outros, que nunca o conseguiram segurar.
Chegou a Coimbra em Dezembro de 2005, depois de outro episódio lamentável com os dirigentes nortenhos, que me confidenciaram "cobras e lagartos" de Ousmane N'Doye como homem. Iludido pela sua valia técnica, preferi, como a maior parte dos adeptos, relevar e dar importância àquilo que iria fazer dentro de campo. Que, até ao momento, foi muito pouco. Nos 6 meses após a sua chegada, teve um rendimento abaixo do que era esperado, sem nunca conseguir afirmar-se totalmente e desequilibrar o jogo. Pensou-se que o seu ano chegaria em 2006.
Foi emprestado, dando contrapartidas económicas interessantes para a Briosa, mas eis que no Verão de 2007 volta a protagonizar mais episódios lamentáveis.
Relembre-se que Ousmane N'Doye chegou bem depois da data em que se deveria apresentar, o que motivou a instauração de um inquérito disciplinar ao atleta. Veio contrariado, com pouca disponibilidade para falar à comunicação social, a quem confidenciou a vontade de sair do clube. Acumulou treinos fracos, jogos-treino reveladores da sua pouca motivação. O cúmulo sucedeu em Alvalade, com uma 2a parte absolutamente vergonhosa em termos de entrega, de concentração, de (falta de) atitude, contribuindo para o 3.º golo do Sporting.
Não obstante, e para meu espanto, Manuel Machado referiu na conferência de imprensa no final do jogo com a União de Leiria, que tinha preparado a equipa durante a semana com Ousmane no 11 titular!!!! Confesso que tive que ler mais que um jornal para confirmar a veracidade de tais afirmações. Acho perfeitamente incompreensível que um treinador, ciente do historial deste atleta, sabendo das suas motivações, prepare a equipa com ele no 11 titular. Incompreensível e ofensivo para os outros profissionais da Associação Académica de Coimbra. Este facto, só por si, revela a pouca capacidade disciplinar do clube, confrangedora até se quisermos comparar com exemplos de outros clubes, em casos bem menos graves.
Aquilo que os responsáveis pretendem de um clube, afere-se muito pela sua capacidade em saber lidar com situações-limite, em que a sua tomada de posição tem que ser exemplar, para dentro (plantel) e para fora (comunicação social e simpatizantes). Não vacilar, tomar decisões corajosas em benefício da imagem do clube e de defesa dos profissionais que merecem vestir aquela camisola, seria sinónimo de competência e rigor. Que se perdeu, neste caso, infelizmente. Espero que não irremediavelmente.
Ironia das ironias, Ousmane foi apanhado na noite de 6a feira na discoteca. Ele foi coerente. Os responsáveis da Briosa é que não.
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on terça-feira, 28 de agosto de 2007 at 15:56.