Jorge Jesus e a Taça...rancores de 1967
domingo, 27 de maio de 2007
Jogou-se hoje mais uma final da Taça de Portugal. O palco foi o Estádio Nacional na mata do Jamor, onde a Académica já esteve por duas ocasiões como finalista vencido em 1967 e 69 durante o luto académico estudantil, coincidente, curiosamente com a época áurea da briosa.
Mas o que liga a
final da Taça de Portugal de 2007 à
Académica?
Em primeiro lugar por ter sido eliminada pelo vencedor do troféu, o
Sporting. E depois, por ter sido frente a uma equipa orientada por
Jorge Jesus.
Ao longo da sua carreira, quer como jogador, (Vitória de Setúbal) quer como treinador, Jorge Jesus sempre teve uma motivação pessoal que o levava a uma superação e a um incentivo extraordinário aos seus atletas sendo notório a sua satisfação pessoal sempre que obtinha um triunfo frente aos de Coimbra.
Ao longo do tempo foi, por isso, sendo
persona non grata em Coimbra. Mas para o compreender temos de recuar 40 anos no tempo até à final da Taça de Portugal que opôs a Académica ao Vitória de Setúbal.
O JOGO:
Árbitro: Salvador Garcia (Lisboa)
V. SETÚBAL-ACADÉMICA, 3-2 (Guerreiro, José Maria e Jacinto João) (Celestino e Ernesto)
V. Setúbal – Vital; Conceição, Leiria, Herculano e Carriço; Tomé e Vítor Baptista; Guerreiro; José Maria, Pedras e Jacinto João.
Académica de Coimbra – Maló; Celestino, Rui Rodrigues, Vieira Nunes e Marques; Toni e Rocha; Crispim, Ernesto, Artur Jorge e Vítor Campos.
144 minutos = 2 horas mais 24 minutos
Foi e será a final mais longa de sempre. Foi, porque não houve nenhuma com a mesma duração desta, e será porque os moldes foram alterados e não permitem finais com mais de 120 minutos. Por isso mesmo, a final da Taça de Portugal entre o Vitória e a Academia, de 1967, será sempre recordada com a mais longa de sempre. Ao todo foram cumpridos 144 minutos de futebol. O árbitro já pedia um golo.
«Ficou-me na memória porque foi a final mais longa, que nunca mais se irá repetir porque os moldes foram alterados», lembrou Fernando Tomé. «Foram 90 minutos, mais 30 de prolongamento, e um segundo prolongamento com golo dourado, até marcar, em que o Jota (Jacinto João) apontou o golo aos 24 minutos do segundo prolongamento», recordou.
«Que remédio tivemos de aguentar», disse. «Já haviam cãibras por todo o lado. Mas não era preciso pedir para sair. Saíamos com naturalidade, e depois entrávamos em campo sem pedir autorização», contou. «Lembro-me que o Toni saiu uma vez, e depois apareceu um jogador do Vitória, ele levantou-se, entrou no campo, e depois voltou a cair novamente», relatou, entre sorrisos. O árbitro também já não aguentava. «Lembro-me que o árbitro Salvador Garcia disse isto aos capitães: Epá por amor de Deus um de vocês marque um golo e acabe com isto. Ou então que partam a taça ao meio e cada uma leve metade. Quando aconteceu o golo do Jacinto João estava perto dele no meio-campo, e caiu redondinho para trás. Estava mais cansado do que nós. Os jogadores da Académica ficaram pelo chão, e nós ainda tivemos forças para festejar.»
Fernando Tomé lembrou ainda o golo que acabou com um jogo que mais parecia não ter fim. «Acabámos por fazer o golo numa jogada individual do Jacinto João, que o Maló não conseguiu suster. Seguiu a bola de gatas e não chegou. Essa foi uma das maiores alegrias que tive. Foi o primeiro título ganho. Eu tinha 19 anos, e fazia 20 no dia seguinte.»
Mas então onde entra aqui o
Jorge Jesus?
No final do jogo da semi-final da taça na qual o Belenenses eliminou o Braga, Jorge Jesus explicou aos jornalistas o porquê do sabor pessoal que teve em chegar à final da Taça de Portugal e também por culpa disso o seu rancor com a Académica:
«É um sonho que me alimenta desde os treze anos. Vou-vos contar porque é que tenho este sonho. Nasceu em 1967, na final da Taça entre o V. Setúbal e a Académica. Estava a ver esta final com a minha família. No prolongamento o meu avô começou a sentir-se mal e morreu ao meu lado, nunca mais me esqueci».
Ironicamente, Jorge Jesus foi vencido na final pelo Sporting que eliminou a Académica, que por sua vez já tinha afastado o Vitória de Setúbal com dois golos de Gyano.
Etiquetas: académica setúbal 1967, final da taça de portugal, jorge jesus
Autor: Libelinha » COMENTE: |
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on domingo, 27 de maio de 2007 at 20:23.