Destino Desconhecido
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007
A carreira na taça, que a todos nos enche de frio miudinho, não nos deve impedir de olhar um pouco mais além. No fundo, como diria Conan Doyle, pela boca de Sherlock, não basta que olhemos para a Académica, é necessário que a vejamos.
Creio fundamental uma decisão sobre a Académica que queremos ter. Alguns defenderão, porventura com legitimidade, uma Académica absolutamente desligada da Academia que lhe deu o ser e o baptismo. Querem um “clube moderno”, de “raiz profissional” e que constitua uma “bandeira da cidade de Coimbra”. Alguns, certamente por problemas de consciência, sempre vão acrescentando qualquer coisa como a “preservação da memória histórica”. Algo em que não acreditam e não conseguem fazer acreditar. Por mim, passo.
Vou acreditando que alguns dos valores da Académica ainda são recuperáveis. Quando deixar de acreditar que a Académica é possível retiro-me do jogo. Poderemos voltar a ter a Académica de há quarenta anos? Obviamente que não. Essa acabou e não volta (com pena minha, acrescente-se). Mas é possível termos algo muito diferente do que actualmente existe. É possível termos Académica e não simplesmente OAF.
Sem ponta de xenofobia, porque a não tenho de facto, diria que um amontoado de Brasileiros, salpicado por Argentinos, Colombianos, Sérvios, Húngaros e sabe Deus mais o quê, que entram às catadupas no início de cada ano para saírem de igual forma no final do mesmo, será aquilo que lhe quiserem chamar, mas não é de todo “Académica”.
Até aceito que tenhamos de gramar o Vanderlei, o Manuel da Enguias, o Zastrapovic e até mesmo Xitãozinho e Xoróró. Contudo, para que estes se engulam, têm que vir com tempero. O tempero são Tó Sás, Romas, Camilos, Ruis Campos, Zés Nandos, Marcelos, Joões Campos, Mickeys, Mitos, Pilotos, Rochas e outros que tais.
Óbvio que não poderemos voltar a ter uma equipa composta exclusivamente por estudantes. Óbvio, também, que nada impede que tenhamos um núcleo importante de jogadores estudantes.
Como muitos sabem, sou professor na Faculdade em que o Tó Sá se licenciou. Muitas vezes lanchei com ele e muitas vezes o assunto veio à baila. A opinião de quem viveu por dentro o problema é simples. Nada impede que se estude e se seja profissional de futebol. Haja capacidade de sacrifício.
Aliás, já foram meus alunos vários profissionais do desporto, por exemplo, o Luís Ferreira (capitão, durante muitos anos, da nossa selecção de hóquei em patins).
Vários jogadores das selecções nacionais de andebol, voleibol, basquetebol, natação (etc., etc., etc)., são estudantes das mais variadas licenciaturas. E conseguem-no. Com muito esforço, mas conseguem-no.
A diferença é simples, acreditam na sua formação e não esperam, a maior parte das vezes até ao infinito, que o contrato de uma vida possa estar ali mesmo ao virar da esquina.
E com isto, volto à paragem de autocarro, o tal cujo destino urge definir. Só assim poderemos saber quem entra, quem fica e quem se apeia. Definamos o destino, decidamos em conformidade.
Por mim é simples, não subscrevo romantismos inconsequentes mas recuso-me a vender a alma ao Diabo.
Etiquetas: destino
Autor: Rogério Puga Leal » COMENTE: |
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on segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007 at 16:59.